Tem dias que eu acordo e penso:
_Queria ser um filho da puta!
Não que não ame minha genitora. Não, pelo contrário, por amá-la demais é que carrego o fardo de ser indiscutivelmente “gente de bem”. Sou obrigado a ser sempre um bom cidadão, coerente, honesto, fiel, confiável. Minha palavra tem peso, minhas promessas têm valor.
_Que merda!
Esperam tudo de mim, diga-se de passagem: “Tudo de bom”. Quando erro é um carnaval, assunto pra muitas rodadas de chopp. Enredo de muita falta de assunto.
Já o filho da puta, esse é feliz, pode errar! É isso que esperam dele afinal, sendo filho de quem é, qualquer coisa que vier é lucro!
Filho da puta pode xingar , porque boca suja lhe apetece, pode embromar, ser desleal, trair, mentir e fingir. E ele faz tudo isso com satisfação, porque o momento pede, porque lhe é propício ou apenas porque é de sua natureza cometer tais atos.
A sociedade perdoa o filho da puta, quanto ao “homem de bem”, esse não! Esse filho de uma “boa mãe” tem que honrar seu pedigree. A ele cabem as pedras caso venha esmorecer em sua conduta ilibada!
O rebento da meretriz carrega sobre si o fardo da mãe, que levou uma vida não tão fácil e isso lhe serve de justificativa para todos os erros que possa cometer.
Sobre o filho da boa genitora pesa o fardo de não poder errar...Jamais! Esse direito lhe fora negado. E pior, até por ele mesmo! Ele priva do direito às quedas concedido até pela própria Escritura Sagrada onde se pode ler: “O cair é do homem...” O filho da boa mãe não pode ser homem, tem que ser Super-Homem, versão nietzschineana de vida que, en passant, não acrescenta nada. Vida sem quedas e aprumos é vida sem vida, sem suspiro, é mais ou menos um existir medíocre.
Que minha mãe me perdoe, mas hoje queria mesmo é ser um filho da puta, só pra me livrar das crises de moral inútil e poder viver intensamente todos os prazeres e amanhã... bem, amanhã seria somente mais um dia, isto é, se eu estivesse aqui para vê-lo chegar.
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